Por: Airton Noé Araujo da Silveira. ( Eng. ambiental )
Para abordar questões mais atuais sobre educação ambiental, é importante uma breve reflexão para conhecer ou relembrar de onde veio este tema e porque surgiu este termo que vem evoluindo ao passar do tempo.
Surgimento da educação ambiental
A educação ambiental surgiu em função da necessidade de repensar a relação da sociedade com o meio ambiente, em função do avanço econômico e populacional, de forma insustentável.
Com a revolução industrial, por volta de 1760 a 1840, houve um aumento bastante acentuado da exploração dos recursos naturais, e consequentemente ocorreu a geração de inúmeros problemas ambientais e uma rápida degradação do meio ambiente.
Considerando o crescimento econômico e o avanço tecnológico, ocorreu um aumento gradual e equivalente na degradação ambiental, que começou se contínua conforme o andamento da exploração insustentável dos recursos naturais.
Com a poluição e degradação do meio ambiente, começou a surgir diversos problemas na saúde humana, e em diversos habitats.
Governantes de várias nações e outras diversas pessoas que compreenderam melhor o que estava ocorrendo, começaram a se mobilizar e debater sobre os novos problemas que foram sendo visualizados com o crescimento das atividades humanas.
Em 1948 em uma conferência sobre meio ambiente que ocorreu em Paris, ocorreram registros iniciais que se fizeram referência ao termo educação ambiental.
Mais tarde em 1972, em Estocolmo, aconteceu uma discussão mais acentuada, com a participação de 250 organizações não governamentais, participantes da ONU, e mais 113 estados, para chamar a atenção sobre as necessidades de adotar uma conscientização empregada para educar as pessoas sobre a necessidade de compreender melhor e respeitar o meio ambiente.
Em 1975, em Belgrado na Iugoslávia, foram relacionados alguns princípios e objetivos da educação ambiental. Em um documento chamado carta de Belgrado, foram registrados então algumas importantes diretrizes:
_Conscientizar a sociedade sobre a problemática ambiental que que ocorre no decorrer do avanço da sociedade.
_Promover a disponibilidade de acesso aos conhecimentos existentes sobre meio ambiente.
_Promover mudanças e ações visando a preservação ambiental
_Promover o desenvolvimento de capacidades que possibilitem ações ambientais.
_Desenvolver o potencial de avaliação de ações ambientais e programas voltados a preservação ambiental.
Compreendendo as necessidades
Para ampliar um pouco a compreensão sobre estes primeiros passos abordados na carta de Belgrado, podemos fazer uma breve reflexão destes tópicos, que vão revelar que são conceitos que são utilizados e necessários até hoje.
Considerando a questão de conscientização apontada como forma de alertar a sociedade sobre o que ocorre com o meio ambiente, em função das ações humanas, que não respeitam seus limites, é importante compreender que a informação correta auxilia para ensinar a fazer o que é certo.
Se as pessoas coerentes conhecerem os problemas, e saberem como evita-los, será mais fácil que estas pessoas façam o que é preciso fazer para evitar a degradação ambiental, e cuidar para que isso não ocorra em função que outras pessoas ao seu redor ainda não tenham este conhecimento para aplicar.
Neste contexto, o termo sustentabilidade deve ser amplamente abordado, compreendido e multiplicado para que todos tenham a possibilidade de além de entender o que é ser sustentável, possam ser na prática pessoas que promovam ações e atos de sustentabilidade.
Considerando adiante o tópico que expressa a promoção do acesso aos conhecimentos sobre meio ambiente e questões ligadas à sua preservação, é importante compreender que estes conhecimentos que ajudam de alguma forma o meio ambiente, devem estar acessíveis e em grande quantidade e diversidade, a disposição do maior número de pessoas.
Atualmente temos a internet, que é uma fonte inesgotável de conhecimentos e uma ampla fonte de compartilhamento de técnicas, métodos, cuidados e outros diversos aspectos aplicáveis em processos e ações visando cuidados com o meio ambiente.
Há algum tempo atrás, não muito longe, tínhamos estes conhecimentos de forma bastante limitada e em certos casos, não era muito acessível. Isso ocorria, em virtude de situações que temas sobre o meio ambiente, estudos e conceitos, estavam dentro de livros em bibliotecas, geralmente ocorrendo somente em zonas urbanas.
Nas questões sobre mudanças e ações que contribuam com o meio ambiente, o amplo acesso a informação e diversidade de conhecimento compartilhado, evidencia que para promover ações práticas de preservação, basta querer e agir, e não há limitação para nenhuma pessoa, em contribuir com o meio ambiente.
Cada cidadão pode contribuir de sua forma no que está ao seu alcance e no que há recursos, como por exemplo, qualquer pessoa pode simplesmente fazer a separação de seus resíduos domésticos para contribuir com a reciclagem, sem grandes investimentos.
Em outras situações, outras pessoas ou empreendimentos, com mais recursos, podem contribuir de forma mais ampla na sociedade, promovendo ações colaborativas e de maiores proporções, como palestras educativas, reciclagem em grande escala, plantio de mudas de árvores para reflorestamento de áreas degradadas, entre outras ações.
Desta forma, não importa a quantidade de recursos ou nível social, para promover ações e atitudes que contribuam com aplicação direta de conhecimentos abordados na educação ambiental.
Sobre desenvolver potenciais de avaliação de ações ambientais e programas voltados a sustentabilidade, cabe a toda a sociedade dentro de cada esfera, sendo ela política, educacional, ou da sociedade civil, para que seja fomentada a necessidade de abordagem dos temas ambientais.
Dentro deste contexto, se encaixa um ponto muito importante que é preciso melhorar e ampliar, que é o sistema de educação ambiental a nível multidisciplinar aplicado em vários níveis da sociedade.
Quando se fala em educação ambiental, não é somente uma referência de conhecimentos que temos que multiplicar em escolas e instituições de ensino.
Este tipo de educação é muito mais amplo e abrangente, considerando que não importa quais os temas que o público tem mais afinidade ou não, para que se possa introduzir também alguns conceitos de sustentabilidade em paralelo e em participação com outros assuntos.
Dependendo dos mais diversos temas e focos, temos que compreender que sempre é possível integrar algum conceito de educação ambiental aliado aos fundamentos e conhecimentos de outros assuntos, no decorrer de seus desenvolvimentos.
Vamos considerar 3 exemplos para compreender melhor como é que isso pode ocorrer e para que serve:
No exemplo número 1, imagine em um posto de saúde, em que os profissionais que trabalham do local, em paralelo de suas atividades do cotidiano, indiquem para o público atendido, que há um local adequado para descarte de resíduos, em um sistema de coleta seletiva fixado na entrada do estabelecimento.
Neste simples fato, de promover a reciclagem e incentivar outras pessoas para colaborarem também nesta ação, está sendo promovida a prática em função da aplicação de conceitos de educação ambiental.
Agora se neste mesmo local de trabalho, não tiver um sistema de coleta seletiva disponível, e não tiver nenhuma demonstração de interesse nos assuntos ambientais, o público pode não contribuir com a reciclagem e descarte adequado de resíduos, e também não visualiza exemplos que podem motivar a dar continuidade em hábitos sustentáveis.
No exemplo número 2, analise uma situação que ocorre em uma propriedade rural, em que os alimentos sejam cultivados considerando conceitos agroecológicos sustentáveis, com compostagem dos resíduos orgânicos da propriedade, e em paralelo, ocorra nesta propriedade, visitas de clientes e integrantes da comunidade, para conhecer melhor o ambiente de produção.
Nesta propriedade, ocorre então diversas formas alternativas e práticas de demonstrar conceitos que são abordados no contexto de educação ambiental. É um formato bastante prático de compartilhar e demonstrar que tais conceitos de sustentabilidade, dão certo e contribuem com o meio ambiente e com a sociedade.
Fomentando assim a adesão de mais colaboradores em causas de preservação ambiental, em função de presenciarem as práticas de adoção de hábitos simples apontados por quem compreende e sustenta este tipo de educação.
No exemplo número 3, considere que em uma associação de pescadores, sejam promovidas reuniões e palestras, para abordar e explicar temas como por exemplo, os cuidados para não deixar resíduos nos rios, preservar espécies em risco, respeitar épocas de desovas de peixes, entre outros cuidados sobre o ambiente em que estes têm contatos diários.
Neste ambiente social, há um grande potencial de aplicação de conceitos de educação ambiental. Considerando que ao se buscar colaboradores com objetivos de promover ações mais sustentáveis no local, estão se disseminando e multiplicando também os conhecimentos em prol de educar os cidadãos em suas funções sócio econômicas.
Estes 3 exemplos, são para ilustrar que é possível integrar a educação ambiental dentro dos mais diversos ambientes sociais, associando diversos tipos de profissões existentes e suas infinitas atividades.
Educação ambiental a nível multidisciplinar
Este novo modelo de desenvolvimento sustentável proposto pelo conjunto de conceitos que estão inseridos no contexto de educação ambiental, foi elaborado e vem sendo amadurecido ao passar do tempo, com a principal finalidade de conscientizar a população em relação a necessidade de preservação ambiental.
Além de conscientizar, também tem o propósito de transformar as pessoas conscientizadas, em multiplicadores de conhecimento e atuantes diretos para auxiliar em frentes de defesas de causas e ações de promoção da sustentabilidade global.
Esta associação multidisciplinar, que considera e promove a inclusão de temas ambientais, é extremamente importante devido a sua abrangência e amplo potencial de atingir públicos muito maiores e mais diversos.
Em função de iniciativas do gênero, que sejam promovidas por multiplicadores e gestores, de conhecimentos sobre sustentabilidade e preservação ambiental, temos um dos tipos de formato que é possível aplicar para promover este tipo de educação para os mais diversos públicos.
Desta forma cada cidadão, não importando a sua área de interesse ou afinidade, será de certa forma incluso em algum momento que servirá para lhe informar, demonstrar e também cobrar ações sobre questões que envolvem a sua existência e a relação que temos com o meio ambiente.
Nem sempre que for promovida uma palestra sobre meio ambiente, vai haver a visita por meio espontâneo de pessoas com focos diferentes e distintos, que não se importem muito com temas do gênero.
Porém estas pessoas que não tem afinidade com temas ambientais, também tem suas influências no meio ambiente, querendo ou não.
Desta forma, cabe então a interação multidisciplinar para acessar este público de alguma forma, para alertar que a sua participação, também reflete positivamente, ou não, na saúde do ambiente em geral que ela está inserida.
A união das mais diversas profissões, dentro de diversas classes e grupos sociais, nos mais diversos pontos de atuação em suas comunidades e em grandes centros urbanos, tem a possibilidade e dever de trabalhar a inclusão da educação ambiental dentro de suas atividades.
Este dever de implantar temas em contextos educacionais voltados a preservação ambiental, é justificado em função que todas as atividades existentes no planeta, e todos os seres humanos participantes destas, tem seu potencial de ajudar e contribuir com a preservação do ambiente agora, e também para as próximas gerações.
Este potencial de ajudar a contribuir com a preservação global, deve ser explorada e aproveitada de forma mais ampla possível, porque o estado em que se encontra o planeta atualmente, é bastante grave.
Com regiões com avançados processos de degradação, mudanças climáticas a níveis globais, perda de áreas produtivas, escassez de água entre outros recursos, perda de biodiversidades, poluição das águas, do solo e do ar, entre outros problemas, temos infinitos motivos para promover a multidisciplinaridade da educação ambiental prática.
Em âmbito empresarial
Conforme há uma imensa diversidade de empreendimento e entidades dos mais diversos focos econômicos e sociais, pode haver uma certa dificuldade em promover a inclusão de temas ambientais dentro de seus cotidianos e atividades.
Isso pode ocorrer por falta de integrantes que tenham as afinidades necessárias para movimentar as iniciativas que cultivem conceitos deste tipo de educação.
Para suprir esta necessidade e demanda, é importante considerar a possibilidade de buscar parcerias com profissionais que são capacitados, que já trabalham e se identificam com temas do gênero, para implantar metodologias e sistemas de integração destes aspectos educacionais voltados ao meio ambiente, em qualquer local onde seja necessário.
As parcerias podem ocorrer das mais diversas formas e necessidades, dependendo da interação necessária e nível em que se deseja promover e iniciar a conscientização dos envolvidos.
A contração de pessoas capacitadas, é uma forma de buscar a integração de conhecimentos ambientais para locais onde ainda não tenham, implantando inciativas ou dando andamento a outras já existentes, ou que precisem mais efetividade em sua condução.
Parcerias entre empreendimentos e organizações, são alternativas interessantes considerando aspectos colaborativos.
Podemos citar, como por exemplo, auxílio com algum tipo de recurso de espaço para promover palestras de educação ambiental, destinação de resíduos em formato de doação para associações de catadores, apoio com mão de obra em ações de limpezas de margens de rios, divulgação de campanhas por meios de comunicação que colaboram com ações de parceiros, entre outros tipos de cooperação.
Em âmbito escolar
Em ambientes educacionais, a integração de conhecimentos e temas ambientais, podem ser trabalhados praticamente dentro de todas as disciplinas, e isso depende muito da visão dos profissionais envolvidos.
Não é preciso abordar temas ambientais somente em uma disciplina específica sobre meio ambiente, e sendo assim, fica a critério e dever dos educadores, promoverem as melhores e mais adequadas formas de introduzir conhecimentos de preservação ambiental em associação com outros temas específicos.
A introdução didática de conceitos sobre sustentabilidade, ecologia, entre outros objetivos de conscientização no contexto de cuidados com a natureza, são fáceis e versáteis de serem trabalhados e promovidos em disciplinas diversas.
Podemos fazer essa associação de temas para incrementar a qualidade do ensino, de diversas formas e métodos, que observam também os níveis escolares e suas faixas etárias.
Como por exemplo, a introdução de histórias de como preservar o meio ambiente, em aulas de língua portuguesa, para interpretação de textos e aprendizado sobre regras gerais de escrita.
Outro exemplo prático, pode ser visto com a integração de conhecimentos ecológicos de cultivos de alimentos, em aulas de biologia. Vinculando assim, detalhes sobre alimentação saudável, e abordando a origem de processos menos agressivos para o meio ambiente na produção de alimentos.
Também por meio de aulas de matemática, introduzir exercícios e problemas matemáticos, que o contexto gire em torno de resolver um problema ambiental, ou evita-lo.
Desta forma, para resolver determinado problema, que antes era aparentemente formado por cálculos matemáticos, se transforma também em uma mensagem positiva de um determinado assunto ligado a conceitos ambientais de preservação.
Em âmbito social e pessoal
A integração de temas ambientais, pode ser introduzido no dia a dia, de pessoas de todas as idades e profissões, considerando que todos temos a capacidade de aprendizado e o dever de empregar o que é correto.
Não importa o quanto a pessoa tenha afinidade com determinado assunto, ou simplesmente ignora outros, que em muitas vezes, por falta de compreensão ou oportunidade para que isso aconteça, então isso não cria necessariamente um obstáculo para que estas pessoas tenham contato com conceitos de preservação ambiental.
Basta achar as formas e ferramentas corretas e adequadas para acessar estes indivíduos, com o intuito de conscientizar e educar estes na medida do possível.
Ambientalistas são exemplos práticos de pessoas atuantes que podem ser de diversas áreas, que por ventura e vocação, em algum momento começam a dedicar parte de suas vidas para causas ambientais, e muitas destas, através de abordagens e multiplicação de aspectos de educação ambiental que são exaltados e seguidos.
Desde pessoas simples e humildes, até profissionais com formações diversas, é possível ser um multiplicador de conhecimentos que colaborem com a educação desejada, tendo em vista que mesmo que em condições sociais e econômicas diferentes, estes indivíduos podem contribuir de alguma forma para ensinar e apreender algo.
Não é preciso ser ter grande poder aquisitivo, para ensinar seu filho a destinar corretamente um resíduo, ou plantar e cuidar de uma muda de árvore.
Mas é preciso ter caráter, boa vontade, e consciência ambiental sobre fatores muito nobres que colaboram com todo o planeta e as inúmeras vidas presentes nele.
Muitas vezes, o exemplo próprio, é uma grande ferramenta de multiplicação de educação, não só ambiental, mas em amplos contextos educacionais.
Um pai ou mãe, que utiliza e ensina seus filhos a separar os resíduos domésticos, são exemplos práticos que influenciaram os pequeninos a terem motivos e vontade de agir corretamente, colaborando também com o que é necessário.
Considerando aspectos simples para ser um multiplicador de conhecimentos ambientais, primeiramente é preciso ter boa vontade, e compreender qual o seu papel fundamental na interação do ambiente em que se encontra.
Sabemos que há diversas dificuldades e obstáculos, para que a educação seja implantada de forma eficaz e efetiva, pois é preciso também acontecer políticas públicas para auxiliar onde a sociedade civil não consegue atuar e não é suficiente.
Em comunidades que não há moradias dignas, saneamento básico, água tratada, e outros recursos básicos para atender a população, fica muito difícil de debater e conscientizar as pessoas sobre alguns aspectos de preservação ambiental, já que o mais urgente para elas, seriam prioridades mínimas de condições adequadas de sobrevivência.
Não é possível conscientizar alguém que está com fome, que matar um animal silvestre é errado e pode representar a diminuição da biodiversidade local.
Por isso, é preciso derrubar diversos obstáculos sociais que ainda existem, para que a educação desejada seja aplicada para todos de e forma inclusiva.
Estes são apenas alguns exemplos e possibilidades de interação e aplicação da educação ambiental, a níveis multidisciplinares, e há uma infinidade de possibilidades para serem trabalhadas e ampliadas no decorrer da evolução da sociedade.
Cabe a nós todos, percebermos a importância deste tipo de integração de todos os cidadãos, não importando a sua posição social ou demais particularidades que por ventura estejam inseridos, que todo este esforço, interação, e iniciativa, visa um bem comum que é de preservar a o nosso planeta, que é nossa casa.
Os fundamentos de integração multidisciplinar que são adotados para unir os mais distantes pontos da sociedade, é um ponto chave na promoção e ampliação das formas de trabalhar a educação ambiental, de forma mais moderna e atualizada, conforme a demanda gerada naturalmente com o crescimento e a evolução da nossa sociedade.
O quanto antes, compreendermos mais sobre este tema e as possibilidades que há neste contexto, será mais fácil de aumentar gradualmente a quantidade de cidadãos conscientizados, e o nível de compreensão dos envolvidos e sensibilizados.
A equação buscada neste objetivo, é aumentar a quantidade de pessoas com conscientização sobre a preservação ambiental, para aumentar cuidados práticos com o meio ambiente, que terá por consequência os resultados positivos em relação a todos os ecossistemas que conhecemos, com aumento dos níveis de preservação.
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