Por: Airton Noé A. da Silveira. (Eng. ambiental)
23/06/2024
A agricultura regenerativa é um sistema que considera um conjunto de práticas agrícolas que visam restaurar e reabilitar condições naturais vinculadas ao ambiente agrícola, promovendo a melhoria na saúde do solo, na biodiversidade e na resiliência dos ecossistemas integrados.
Diferente da agricultura convencional, que considera técnicas que degradam os recursos naturais, a agricultura regenerativa foca em regenerar e melhorar as condições dos ecossistemas agrícolas.
Características e técnicas utilizadas na agricultura regenerativa
Para compreender melhor este sistema regenerativo, é importante conhecer algumas técnicas que são aplicadas neste contexto e as suas características envolvidas.
Na agricultura regenerativa, são empregadas diversas técnicas para restaurar e melhorar as condições do solo e dos ecossistemas agrícolas. Essas técnicas visam ajudar a manter a biodiversidade local, a fertilidade do solo e promover a sustentabilidade a longo prazo.
A seguir abordaremos algumas das principais técnicas utilizadas na agricultura regenerativa:
Saúde do solo:
Rotação de culturas: Considerando a alternância de diferentes tipos de culturas, é possível melhorar a saúde do solo e promover um melhor controle de pragas e doenças. A alternância de plantio de diferentes culturas no mesmo campo ao longo do tempo, ajuda a interromper determinados ciclos de pragas e doenças, auxiliando no controle destes problemas em lavouras.
Cobertura do solo: Este sistema utiliza plantas de cobertura para proteger o solo da erosão, melhorando também a retenção de água e a quantidade de matéria orgânica no ambiente. Com o plantio de culturas, como, por exemplo, leguminosas, gramíneas, entre outras plantas que não são destinadas à comercialização, servem para proteger e melhorar a quantidade de matéria orgânica no solo, e ajudam a fixar nitrogênio. A aplicação de materiais orgânicos como palha, folhas ou compostos para proteger o solo, também ajudam a suprimir ervas daninhas.
Cobertura verde de inverno (Winter Cover Crops): O plantio de culturas que se desenvolvem especificamente no inverno, auxiliam a proteger o solo contra a erosão e a lixiviação de nutrientes em épocas chuvosas, além de ajudar a melhorar a estrutura e a fertilidade do solo na primavera.
Compostagem e adubação orgânica: A utilização de compostos orgânicos ajudam a nutrir o solo, deixando mais fértil sem a adição de compostos artificiais. A utilização de compostos orgânicos, como o esterco e outros resíduos orgânicos, servem para nutrir o solo e melhorar sua estrutura e fertilidade
Biodiversidade:
Policultura: O cultivo de diversas espécies vegetais na mesma área, ajuda a promover a presença da biodiversidade e auxilia a reduzir a incidência de pragas. Esta prática é mais utilizada em pequenas propriedades para ajudar também a diversificar a produção em determinada propriedade.
Integração agroflorestal: A aplicação de combinações de árvores e culturas agrícolas, auxiliam a aumentar a biodiversidade e também melhora o microclima local. Integração de árvores e arbustos com culturas agrícolas e/ou gado para criar sistemas mais diversificados e produtivos que também melhoram a resiliência ambiental.
Uso sustentável da água:
Gestão eficiente da água: Técnicas como irrigação por gotejamento e captação de água da chuva para reduzir o uso excessivo de água, ajudam a poupar este recurso promovendo uma melhor sustentabilidade do sistema. A implementação de sistemas de coleta de água da chuva de telhados, e a construção de barragens e tanques de retenção, entre outros métodos de aproveitamento de água, são de extrema importância durante os períodos mais secos, para suprir a necessidade de manter áreas de cultivo em condições adequadas de irrigação.
Construção de Terraços: Este sistema ajuda a reduzir a erosão e melhora a infiltração de água no solo. Também conhecido como terraceamento, esta técnica consiste na construção de terraços em áreas que possuem declives, de forma este sistema ajuda a reduzir a erosão em função de diminuir a velocidade e a força de descida de fluxos de água da chuva ou de irrigação, minimizando o efeito de desestruturação do solo. Em função de minimizar a erosão, este processo também auxilia a segurar a matéria orgânica e os nutrientes no solo.
Integração de animais:
Pastoreio rotativo: Com a movimentação de animais em diferentes áreas, é possível evitar o sobrepastoreio e ajuda a melhorar a fertilidade do solo. Desta forma, a vegetação ganha mais tempo de se recuperar e se multiplicar.
Integração de animais em sistemas agrícolas: Com a utilização de animais em áreas agrícolas, é possível promover um certo controle de pragas e ainda ajuda na fertilização do solo. Animais como por exemplo, galinhas, galinhas-d’angola e gansos, são ótimos predadores de lagartas, escorpiões, gafanhotos, entre outros insetos.
Técnicas de plantio direto
O método de plantio direto, auxilia a minimizar o revolvimento do solo, reduzindo a perturbação da estrutura do solo, preservando e retendo nutrientes e a matéria orgânica presente. Evitar o revolvimento excessivo do solo ajuda também a evitar pontos de erosão e perda de microorganismo do solo.
Utilização de biochar
Ao adicionar carvão vegetal no solo, é possível aumentar a retenção de nutrientes e água, e isso também melhora a estrutura do solo e o sequestro de carbono. Este tipo de carvão vegetal para uso agrícola é uma ótima opção para reciclar biomassa carbonizada, aproveitando de forma sustentável este material para melhorar as condições do solo.
Hedgerows e corredores de vida selvagem
O plantio de sebes e a criação de corredores naturais, auxiliam na criação de habitats para polinizadores entre outras diversas espécies de animais e insetos benéficos, que aumentam a biodiversidade local e também colaboram com o controle biológico natural.
Sistemas de microirrigação
A utilização de sistemas de irrigação por gotejamento ou microaspersores, ajudam a fornecer a água diretamente às raízes das plantas, e auxilia a minimizar a evaporação e assim aumenta a eficiência do uso da água na agricultura.
Em função da utilização de diversas técnicas que consideram métodos e procedimentos mais sustentáveis, a agricultura regenerativa promove uma série de benefícios para o meio ambiente e para a sociedade.
Benefícios para o meio ambiente
Melhoria da saúde do solo:
Aumenta a capacidade de retenção de água e nutrientes.
Reduz a erosão e a degradação do solo.
Sequestro de carbono:
Práticas como o plantio de árvores e a manutenção da cobertura do solo ajudam a capturar e armazenar carbono, mitigando as mudanças climáticas.
Aumento da biodiversidade:
Promove habitats para diversas espécies de plantas, insetos e animais, aumentando a resiliência do ecossistema.
Redução da poluição:
Menor uso de agroquímicos reduz a contaminação de solos e corpos d’água.
Benefícios para a sociedade
Segurança alimentar:
Práticas regenerativas podem aumentar a produtividade agrícola de forma sustentável, garantindo um suprimento contínuo de alimentos.
Saúde humana:
Alimentos cultivados em solos saudáveis são mais nutritivos e podem melhorar a saúde das populações.
Economia rural:
Agricultura regenerativa pode criar empregos e promover o desenvolvimento econômico das áreas rurais.
Resiliência a mudanças climáticas:
Sistemas agrícolas regenerativos são mais resilientes a eventos climáticos extremos, como secas e inundações, assegurando a continuidade da produção agrícola.
A agricultura regenerativa contém uma abordagem holística e muito mais sustentável para a produção agrícola, em função de integrar práticas que promovem a saúde do solo, a biodiversidade e a resiliência dos ecossistemas.
Os benefícios deste sistema se estendem além do ambiente, melhorando também a segurança alimentar, a saúde humana e a economia rural, ao mesmo tempo, em que também ajuda a mitigar as mudanças climáticas.
Então é possível ver claramente, que este tipo de agricultura emprega uma ampla gama de técnicas e métodos para criar sistemas agrícolas mais resilientes, produtivos e mais sustentáveis.
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