Os agrotóxicos e a necessidade iminente de considerar outras alternativas.

 

Por: Airton Noé Araujo da Silveira. ( Eng. Ambiental )

27/01/2022

Os pesticidas são usados na agricultura para reduzir o número de pragas e aumentar o rendimento das culturas. Este artigo irá explorar os riscos, os benefícios dos pesticidas na agricultura, e como estes produtos podem afetar a saúde humana.

O que ainda pode ser feito para resolver esse problema do uso de agrotóxicos? Esta é uma pergunta que não é muito fácil de ser respondida, conforme há muitas variáveis e fatores a considerar que podem afetar a cadeia produtiva de alimentos.

Sabemos que os pesticidas, surgiram depois da segunda guerra mundial, devido a necessidade de empregar um novo uso para aqueles produtos químicos que foram criados inicialmente com finalidades destrutivas. Grandes industrias necessitavam continuar a produzir estes produtos, para manter diversos postos de trabalho, e continuarem lucrando.

Os principais agrotóxicos utilizados no Brasil, são o Glifosato, 2,4-d, e atrasina.  

SAÚDE

O principal problema no uso de agrotóxicos, e que nos afeta diretamente, está relacionado aos problemas que causam à saúde da população, e tem sido associado a doenças como câncer, asma e diabetes. Os pesticidas também têm sido associados a distúrbios no desenvolvimento em crianças, como autismo e TDAH.

Algumas destas doenças, podem causar a morte, ou gerar problemas para o resto da vida dos prejudicados, causando assim danos irreparáveis para diversas famílias. Os agrotóxicos também promovem a desregulação hormonal no nosso corpo, acarretando assim diversos tipos de problemas ao nosso organismo.

Imagem: Série histórica de casos de intoxicação com agrotóxicos. Fonte: Educação Pública.

Nem sempre paramos para pensar nos efeitos que podem acarretar o consumo de agrotóxicos, de forma acumulativa, nos alimentos diários que consumimos.

Não é todo mundo que consegue ter um equilíbrio emocional satisfatório, para poder optar sobre o que é menos nocivo para o próprio organismo. Como colocar na balança questões e optar em relação a possibilidade de comer uma larva de inseto, ou ingerir porcentagens de produtos químicos acumulativos e nocivos à saúde.

Esta questão pode ser respondida de diversas formas dependendo de cada pessoa e de cada ponto de vista. O ideal pode ser não consumir nem veneno e nem uma possível larva, mas e se tivermos que optar, o que será melhor para nós?

Pessoas com sequelas, devido ao uso de agrotóxicos, conforme absorção que tenha ocorrido no momento de manuseio e aplicação destes químicos, são casos comuns e que ocorrem todo o ano, e prejudicam a saúde de muitas pessoas. Representando também um alto custo para a saúde pública, para atender estes casos de intoxicação, e seus respectivos tratamentos e demais custos ocasionados.

Devido a algumas características de alguns agrotóxicos, nas suas composições químicas, estes formam agentes que afetam o sistema neurológico dos seres humanos, podendo causar sequelas irreversíveis aos afetados. Em outros casos de absorção de pesticidas, pode haver irritação da pele, problemas no sistema digestivo, problemas cardíacos, lesões renais, fibrose pulmonar, doença de Parkinson, alergias no aparelho respiratório, e até câncer.

Depende muito do organismo de cada pessoa e sua resistência, dependendo também da quantidade dos produtos químicos absorvidos, para gerar algum destes problemas de saúde previamente descritos.

Além destes problemas de saúde citados anteriormente, decorrentes pelo consumo e absorção de agrotóxicos, existem outros tipos de problemas de saúde que também acabam sendo gerados no organismo das pessoas, dependendo daqueles indivíduos que já tenha uma prévia fragilidade em algum ponto específico do organismo, e que seja mais suscetível aos agressores químicos.

Digamos que o indivíduo que for fazer a aplicação de um agrotóxico, seja também fumante, e que tenha seu organismo a alguns anos sendo afetado pelo vício, este cidadão então pode ter uma tendência ou ponto frágil mais acentuado no sistema respiratório.

Mas isso não é exatamente uma regra, pois pode ser um fator a considerar e que pode demonstrar pontos frágeis do organismo, mas também há aqueles casos que dependendo do grau de contato com os pesticidas, até o indivíduo com a saúde mais perfeita pode ser afetado, e vir a sofrer as consequências.

Isto se dá em função que determinadas concentrações e proporções de agrotóxicos, que são extremamente nocivas e perigosas a saúde humana.

A ECONOMIA E AS NOVAS TECNOLOGIAS

Há um debate sobre se devemos ou não continuar usando pesticidas para fins agrícolas. Sabemos que para gerar grandes quantidades de alimentos, é preciso assegurar a produtividade das lavouras, e o risco de perdas devido a instalação de pragas é muito grande.

As extensas áreas de monoculturas, são ambientes propícios para o desenvolvimento de determinados insetos e outras pragas, que podem se desenvolver em grande escala devido à enorme oferta de alimentos.

Neste ponto de controle de pragas em lavouras, a tecnologia pode ser uma grande aliada, com a elaboração de métodos e sistemas de controle, sem uso de produtos químicos.

Imagem: Vespa atacando lagarta. Fonte: Alavoura

Algumas espécies de vespas, como a Polistinae, é predadora de outros insetos que são considerados pragas em lavouras, e portanto o controle biológico com a inserção de vespas no ambiente, é bastante interessante em determinadas propriedades e dependendo dos alimentos que estão sendo cultivados.

Além dos riscos de perdas nas lavouras, com as variações e imprevistos climáticos, que já podem prejudicar a sustentabilidade da produção de alimentos, temos também o risco de perdas de produtividade em função de diversos tipos de pragas que podem atacar o plantio.

Para quem produz, não é nada fácil arriscar perder uma lavoura e o todo o investimento empregado para produzir uma safra, e ficar devendo para bancos, e acabar sem recursos para investir na continuidade das atividades da propriedade.

Imagem: Robô TerraSentia monitorando uma lavoura de milho. Fonte: Revista Globo Rural

Os robôs agrícolas podem coletar dados na lavoura, e até combater fungos.

Sabemos que o produtor rural, é aquele que produz os alimentos que suprem a necessidade da população, mas que este também tem que ter condições e segurança financeira para prosseguir com as atividades e com o ciclo produtivo que alimenta o mundo.

Em contrapartida, a saúde da população também tem que ser levada em conta, pois o consumidor final será o receptor destes alimentos, que podem conter altas cargas de pesticidas.

O uso de drones em lavouras já é uma realidade, e vem cada vez mais sendo empregado para monitorar e identificar possíveis pragas em lavouras.

Também há uma parcela destes equipamentos que são utilizados para a aplicação de pesticidas, facilitando o processo de dispersão do produto a aplicar, e desperdiçando menos o veneno, com mais eficiência sobre a lavoura. Em relação ao uso de aviões agrícolas, consideramos que tem que despejar os produtos químicos de uma altura maior e com maior dispersão para a atmosfera, se compararmos com a dispersão por drones.

 

Imagem: Drone pulverizando agrotóxico em lavoura. Fonte: Pixabay

Algumas vantagem do uso de drones nas lavouras, são referentes a facilidade de manobra com uma maior precisão e controle da velocidade, dispersão dos produtos com maior impulso de vento para baixo, e menor consumo de energia e combustíveis para o processo de circulação sobrevoando a lavoura.

Por parte de governantes, e de grandes produtores, há uma resistência acentuada em relação a possibilidade de revisão de técnicas de cultivo, sem o uso de agrotóxicos. Isso é resultante de anos de práticas bem estabelecidas que empregam como de costume os pesticidas, com uma naturalidade assustadora.

A cada liberação de novos pesticidas, que são autorizados para consumo no Brasil, há o aumento do risco para a população e para o meio ambiente, que por consequência serão os recebedores destas cargas químicas, mais cedo ou mais tarde, sem saber bem ao certo o risco que está envolvido.

Imagem: Infográfico sobre registros de agrotóxicos no Brasil. Fonte: G1/Ministério da Agricultura.

Ao usar os pesticidas nas lavouras, os produtores responsáveis por grandes áreas cultivadas, se apegam a uma segurança que a lavoura tem em relação a diversos tipos de pragas que podem agredir o cultivo, e prejudicar a rentabilidade. Porém não é levado muito em conta os possíveis efeitos colaterais do uso dos produtos químicos.

Alternativas como o consumo de alimentos orgânicos, que são cultivados em sistemas livres do uso de produtos químicos, seria o ideal para o consumo humano, porém devido a serem comercializados por valores mais altos, que se comparados com os alimentos convencionais, não se tornam acessível para a maior parcela da população.

E infelizmente assim, a quantidade de alimentos fala mais alto, para atender os inúmeros consumidores da população em geral.

Mesmo que este fator comercial de valores interfira, na aquisição de alimentos, há uma tendência que se nota nas prateleiras de grandes mercados, que há a disponibilidade cada vez maior de alimentos que carregam na descrição como sendo orgânicos.

Isso se dá em função que os meios de comunicação, que cada vez mais vem divulgando sobre os perigos de consumir alimentos com veneno, são prejudiciais à saúde, conforme divulgam estudos, e casos de pessoas intoxicadas e suas situações indesejadas de correntes da absorção e consumo continuado de pesticidas.

Mesmo com as inúmeras desvantagens do uso dos pesticidas, ao meio ambiente e a saúde da população, provavelmente se não fosse o uso destes produtos químicos, não teria sido possível boa parte da expansão de território plantado no país, e as quantidades produzidas de alimentos não seriam iguais as que foram alcançadas ao passar do tempo.

Conforme não haviam tecnologias viáveis e acessíveis para os produtores produzirem alimentos mais seguros, nestes anos que se passaram, na construção da agricultura no país, talvez tenha sido um mal necessário para atender a demanda de quantidade de alimentos a produzir.

Mas no momento em que temos alternativas e tecnologias para mudar isso, se torna um dever repensar os métodos empregados para não continuar com a disseminação de elementos químicos nocivos em lavouras.

MEIO AMBIENTE

O uso de agrotóxicos não é apenas prejudicial somente à nossa saúde, mas também ao meio ambiente. Os pesticidas são usados na agricultura, parques e campos de golfe. Eles também são usados em residências para controle de pragas. Como resultado, as pessoas foram expostas a eles através dos alimentos que comem, do suprimento de água e do ar que respiram.

A sociedade passou por muito tempo, utilizando e sendo conivente com o uso dos produtos químicos nas lavouras, como por exemplo quando vamos ao mercado e precisamos escolher frutas e verduras, temos a tendência de sempre escolher aquelas que não tem nenhuma marca de agressão ou investida de insetos.

Infelizmente no Brasil, ainda há práticas em diversas propriedades, que acontece o uso indiscriminado de agrotóxicos em proporções inadequadas ou sem acompanhamento especializado. Acarretando assim a inserção em larga escala de produtos químicos no meio ambiente, e agregando também em excesso nos alimentos cultivados.

Imagem: Embalagens diversas e resíduos sólidos armazenados em local inadequado em propriedade rural no interior do RS. Fonte: Airton Noé Araujo da Silveira.

Embalagens de agrotóxicos, devem ser armazenadas em local coberto e adequado, para evitar que pessoas e animais entrem em contato com estes produtos.

Assim a contaminação chega facilmente a corpos hídricos, com auxílio da chuva que carregará estes componentes conduzindo estes para rios, córregos e águas subterrâneas.

Além da questão dos produtos químicos licenciados sendo dispersos de forma irregular no meio ambiente, temos também a situação de presença de muitos agrotóxicos irregulares ou proibidos, que ainda são utilizados de formas inconsequentes nas lavouras.

Muitos agrotóxicos proibidos no exterior, tem licença no Brasil para serem comercializados, sem levar em conta que se foi proibido no exterior devido a sua toxicidade, vai continuar sendo nocivo aqui no Brasil e tendo o seu papel destrutivo continuado.

O controle biológico de pragas, é uma alternativa muito interessante e importante a ser considerada e implementada em larga escala em lavouras, pois emprega o uso de predadores naturais, para abater determinadas pragas e fazer o controle das populações destas.

Imagem: Fungo Beauveria bassiana, parasitando um percevejo. Fonte: Defesa Vegetal

Determinados tipos de fungos, podem parasitar alguns insetos e efetuar assim o controle biológico em lavouras.

O desaparecimento de abelhas também é uma situação preocupante, pois os agrotóxicos matam estes insetos que são tão importantes para o meio ambiente, devido ao aspecto de serem grandes polinizadores naturais entre plantas.

Em locais que não há abelhas, também não há produção de determinadas culturas, já que certas espécies de plantas dependem muito da polinização entre indivíduos para haver a fecundação em flores, e posteriormente a geração de frutos.

O livro Primavera silenciosa, de Rachel Carson, que foi lançado em 1962, serviu como um grande marco de alerta em relação aos perigos dos agrotóxicos, e seus efeitos nocivos. Neste livro havia uma crítica que já alertava aos leitores em relação do uso de pesticidas.

Apesar do alerta vindo em 1962, por intermédio desta publicação, os grandes produtores de agrotóxicos continuaram a crescer e produzir mais pesticidas, até os tempos atuais.

Certos agrotóxicos, tem o poder de matar aves, roedores, e outros exemplares da fauna, que entrem em contato com determinadas quantidades destes produtos. A lavoura fica protegida contra invasores que podem danificar as culturas, mas o preço é alto a pagar considerando que este veneno todo será carregado e distribuído pelo meio ambiente.

Determinados pesticidas agem eliminando ervas e fungos, que representam empecilho e risco a certas culturas, e são empregados em larga escala na prevenção e eliminação de espécies indesejadas no campo.

E sendo assim, estes venenos que afetam a fauna e flora, acabarão mais cedo ou mais tarde, indo de encontro com os organismos da população, por meio de ingestão de água contaminada, nas verduras e frutas, ou impregnados na carne de animais que tenham se alimentado com estas plantas cultivadas em meio ao veneno.

Spread the love

4 comentários em “Os agrotóxicos e a necessidade iminente de considerar outras alternativas.”

  1. Olá amigo, vi que você mandou essa matéria para ser postada no site do grupo do IBEMA no Facebook, e como tratamos especificamente sobre o meio ambiente, fauna e flora, todas as matérias por lá são analisadas antes de postarmos as mesma.
    Matéria além de interessante, muito importante, estamos postando sua matéria no site do grupo do IBEMA, por ser de, além de importante, também de Utilidade Pública, por essa razão estaremos também postando no site oficial do IBEMA no facebook www.https://www.facebook.com/IBEMA/

    O IBEMA é um instituto ecológico ambiental sem fins lucrativos, e seu trabalho é específico: Fiscalização do cumprimento das leis ambientais, florestais e minerais, e toda matéria relacionada ao meio ambiente fauna e flora, que tenha sentido, nexo, informações e explicações relacionado ao tema, ficamos felizes em colaborar, postando em nossa rede.
    Caso seus seguidores que gostem dessa importante área desejarem conhecer um pouco do trabalho do IBEMA, estamos com nosso site oficial no Google aqui: https://sites.google.com/a/ibema.org.br/www/

    grande abraço

    Vavá do IBEMA

    1. Olá, tudo bem? Fico muito feliz com suas palavras, e isso é muito gratificante, pois encontrar pessoas que pensam e se importam realmente com o meio ambiente, dá mais esperança e força para seguir fazendo a nossa parte.
      Visitei o site do IBEMA e achei muito importante o trabalho que vocês desenvolvem. Parabéns pela iniciativa e perseverança desde 1995!
      Obrigado e grande abraço!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *