As frutas sem sementes, e o risco silencioso que isso representa. Saiba mais sobre esta perigosa revolução.

Por: Airton Noé Araujo da Silveira. ( Eng. Ambiental )

13/09/2022

Mesmo sem prestar muita atenção, em algum momento os consumidores atuais, já podem ter comprado e ingerido algum tipo de fruta que não tenha sementes, como por exemplo, melancias, uvas e bergamotas.
Um detalhe que pode ser até um atrativo para determinados consumidores, que buscam uma certa comodidade, em degustar uma fruta sem se preocupar em retirar ou morder as sementes.
Boa parte das frutas sem sementes que há no mercado, são resultantes de manipulação genética e de cruzamentos entre espécies.
Essas frutas resultantes de processos artificiais de produção, também carregam algumas características interessantes para determinados públicos, como em alguns casos que ocorre um sabor diferenciado nestas frutas.
As variedades vendidas no Brasil são resultado de cruzamentos genéticos e de seleção natural, sem uso de transgenia – ainda em fase de pesquisa.  
Fonte: Gaúcha ZH
No Brasil, o Rio Grande do Sul se destaca na produção de frutas sem sementes, com produção mais acentuada na região da Campanha.
Neste contexto de consumir frutas sem sementes, não é difícil se perguntar:
_E por acaso alguém já visualizou algum tipo de etiqueta ou aviso que está adquirindo alimentos geneticamente modificados?
Para o biólogo Paulo Brack, doutor em Ecologia e Recursos Naturais e professor do Departamento de Botânica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), essa facilidade que torna os frutos comercialmente mais valiosos, por outro lado, apresenta uma grande ameaça: a variabilidade genética de várias plantas que necessitam de sementes como elemento chave de sua evolução.
Fonte: Jornal Extra Classe
Considerando as modificações em alimentos, e a falta de estudos que comprovam a segurança alimentar, podemos até ficar na dúvida em relação a qualidade das frutas sem sementes.
Isto se considerarmos que não são vegetais totalmente naturais, pois sofreram algum tipo de manipulação, ou cruzamento artificial.
Além de não termos certeza absoluta da segurança alimentar considerando o consumo de frutas sem sementes, temos ainda um risco biológico que pode afetar a biodiversidade em muitas regiões onde se propaga o cultivo artificial de mudas.
Ao consumir as frutas sem sementes, o consumidor não destinará mais em seus resíduos orgânicos, parcelas de sementes que poderiam gerar novos exemplares em hortas e pomares domésticos.
Sendo assim, a produção de certas frutas corre o risco de ficar restrita somente em função da compra de um fornecedor comercial, que pode monopolizar determinada cadeia de fornecimento de alimentos no futuro.
Resumidamente, daqui a alguns anos, corremos o risco de ter que comprar determinadas frutas, somente de fornecedores que são donos exclusivos de determinadas espécies frutíferas.
A sociedade deve refletir sobre o risco que isso representa, pois se algumas espécies vegetais, ficarem dependendo somente de ações humanas para se reproduzir, isso pode desencadear algumas extinções em massa.
Não podemos esquecer que os espaços naturais onde se propagam determinadas espécies frutíferas, vem sofrendo com o avanço da pecuária, exploração madeireira e para outros fins de urbanização.
Pensando em produtividade, safras e variações de mercado, se determinado produtor no futuro, tiver a exclusividade da produção de determinada fruta, será que este não poderá fazer o que bem entende com esta espécie?
Além da produção ser focada nas mais saborosas e sem sementes, no futuro temos o risco de perder de vista algumas várias espécies que ainda temos no mercado, havendo assim uma seleção que visa somente o lucro e a maior produtividade.
A comodidade que determinados públicos buscam, incentiva a produção cada vez mais industrializada de alimentos, resultando na presença crescente de alimentos processados, descascados, sem sementes, e em embalagens artificiais.
Existem também algumas variedades de frutas, como por exemplo, a bergamota montenegrina (Citrus deliciosa Tenore), que se tem registro que foi um tipo de mutação espontânea que gerou esta espécie.
Se pesquisarmos um pouco mais, sobre a bergamota montenegrina, encontraremos estudos que abordam a ausência de sementes, e também o risco de extinção em função deste fator.
Hoje em dia esta variedade descoberta em 1940 em Campo do Meio, área do município de Montenegro (Vale do Caí, Rio Grande do Sul) está ameaçada de extinção.
Fonte: Jornal Extra Classe
A aparência de alguns alimentos, tem influência decisiva na aceitação do mercado, porém nem sempre os mais atrativos visualmente, são os mais nutritivos e adequados.
Um exemplo prático da influência da aparência de um alimento, gerar pouca aceitação no mercado, é referente ao arroz vermelho.
O arroz vermelho é tratado como erva daninha em determinadas regiões brasileiras, pois o arroz branco tem melhor aceitação no mercado. Porém o arroz vermelho é mais rico em nutrientes, fibra e ferro, que se comparado com o arroz branco.
Além de ser um excelente substituto para o arroz branco, o grão vermelho era conhecido na China Antiga como capaz de “tornar soldados mais fortes, mais rápidos e mais resistentes”. Rico em monacolina, pode ajudar na prevenção de doenças cardiovasculares e demais condições. 
Fonte: Vitat
Há um grande dilema global, relativo a possibilidade de criar um futuro sem escassez de alimentos, porém com alguns riscos biológicos.
Ou podemos criar um futuro onde os alimentos sejam mais seguros, e buscar contornar problemas de produtividade. A escolha é nossa.
“No exterior, praticamente todos os citrus (grupo que contém frutas como laranja, limão e tangerina) são produzidos sem sementes”, conta Roberto Pedroso de Oliveira, pesquisador da Embrapa na unidade Clima Temperado.
Fonte: Terra
Acreditamos que muitos pesquisadores estão preocupados com os impactos ambientais da manipulação genética, e os perigos potenciais que ela representa para a biodiversidade, sistemas ecológicos, saúde humana, produção de alimentos e meio ambiente.
Mas, e aqueles que visam somente o sucesso e a lucratividade em empresas que pagam por produtividade acima de tudo?
A evolução industrial tem sido definida como “o processo de mudança em uma indústria ao longo do tempo, geralmente envolvendo inovação tecnológica”.
Considerando os fatores que envolvem a evolução industrial, não podemos deixar de considerar que a influência da indústria, é uma das mais fortes sobre a produção de alimentos no mundo.
O americano Luther Burbank, além de criar uma série de novas variedades que estão em demanda pela agricultura dos EUA, (batata, maçã, pêra, e outras culturas), trouxe incomuns em particular, cactos sem espinhos e ameixas sem sementes, bem como sunberry.
Fonte: Rumedia
A ideia de que uma única pessoa pode mudar algo tão fundamental quanto a natureza é emocionante e assustadora.
É emocionante porque significa que temos controle sobre nosso ambiente, mas também é assustador porque não sabemos quais consequências não intencionais podem vir desse tipo de manipulação.
O conceito de risco biológico existe há muito tempo. No entanto, só recentemente os perigos da manipulação genética vieram à tona.
Uma área onde isso está acontecendo é na indústria de alimentos. Frutas sem sementes, como bananas e laranjas, estão sendo geneticamente manipuladas para resistir a doenças e pragas. 
O problema com isso é que os genes são disseminados por meio de polinização cruzada, o que pode levar à extinção de outras espécies de árvores frutíferas com sementes.
Além disso, quando as frutas sem sementes se tornarem mais proeminentes nas mercearias, os agricultores serão forçados a plantar esses tipos de frutas em vez de outras.
Isso levará a uma redução na biodiversidade e a um aumento nas práticas agrícolas industriais que não são sustentáveis para o nosso meio ambiente.
A produção artificial de alimentos pode representar um potencial risco para a saúde, e para o meio ambiente, em função de variáveis que ainda não temos como prever com clareza.  Considerando como por exemplo, os cruzamentos genéticos e a produtividade transgênica em espécies alteradas, e interações não previstas com as demais espécies livres na natureza.
A produção artificial tem sido usada há séculos para produzir plantas que não podem crescer naturalmente, como café, chá e seringueiras. 
No entanto, a produção artificial também está sendo usada para produzir culturas alimentares como tomates e morangos, com o objetivo de aumentar a segurança alimentar global em uma época em que as mudanças climáticas já estão afetando a agricultura.
Enxertar mudas de frutas é um processo de unir um novo broto ao caule de uma planta mais velha. O novo broto é chamado de descendente e a planta mais velha é chamada de porta-enxerto.
A enxertia tem sido usada há séculos para produzir melhores frutas e hortaliças, melhorando sua qualidade e rendimento. Além disso, reduz a transmissão de doenças nas lavouras, reduzindo a necessidade de pesticidas.
Com o aumento da população e a diminuição das terras aráveis, é necessário encontrar uma solução para o problema da produção de alimentos. A nova técnica de enxertia de mudas frutíferas pode ser uma alternativa para enfrentar esse desafio.
Mas é importante refletirmos qual será o ponto de equilíbrio e segurança para unir estes vários conceitos, que temos que utilizar com cuidado e sabedoria.
Se analisarmos ambos os lados, há alguns fatores favoráveis, e outros negativos, em relação a muitas técnicas de cultivo.
Se determinada espécie frutífera for aprimorada para ser mais resistente, dispensando o uso de agrotóxicos, temos um ponto muito positivo a considerar relativo a diminuição do risco da presença de venenos em lavouras.  
Porém temos que ver se esta espécie modificada também não corre o risco de se reproduzir somente por meio de ações humanas, acarretando assim um risco de extinção da espécie.
Este assunto sobre a reprodução de vegetais envolvidos na alimentação, é bastante importante de considerar em estudos e pesquisas, pois só assim pode gerar mais conteúdo e conhecimentos para reflexão, e tomadas de decisão para a sociedade em geral.
 
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1 comentário em “As frutas sem sementes, e o risco silencioso que isso representa. Saiba mais sobre esta perigosa revolução.”

  1. Infelizmente , ou não ,tudo tem dois lados e é necessário analisar os prós e contras em cada caso. Mas acredito que perder variedades mais rústicas é perder um tesouro da natureza. A tecnologia é boa se usada com respeito e sabedoria.

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