Por: Airton Noé Araujo da Silveira. ( Eng. Ambiental )
04/02/2022
As macrófitas são plantas aquáticas que tem um papel muito importante na composição de muitos ambientes úmidos, aquáticos e de transição.
Suporte a ecossistemas
Esse tipo de vegetação serve de abrigo para inúmeras formas de vida e também serve como alimentação.
Nos sistemas aquáticos, estas plantas estão inseridas em inúmeras cadeias alimentares, proporcionando fontes de nutrientes e ambientes adequados para existência de determinados ecossistemas.
Anfíbios, peixes, Répteis, e insetos, são alguns tipos de seres vivos que aproveitam como abrigo e alimentação, as aglomerações de macrófitas.
Imagem: Aglomeração de aguapés, em borda de lago, na direita da imagem. Santa Cruz do Sul – RS. Fonte: Airton Noé Araujo da Silveira.
Onde há estes grupos de plantas aquáticas, se formam locais propícios para servirem também como berços para a reprodução de inúmeras espécies de seres vivos, devido ao suporte de abrigo e refúgio entre as plantas.
Combate ao assoreamento
As macrófitas também tem um papel importante na cobertura vegetal de bordas de encostas de corpos hídricos, auxiliando com as suas raízes e estruturas vegetais, formando barreiras contra erosão.
Em colônias, estas plantas aquáticas ficam agrupadas, compondo um tipo de borda vegetal, e estas estruturas ajudam a diminuir o impacto dos fluxos de água no solo das margens, evitando o desprendimento de material para dentro dos corpos hídricos.
Desta forma citada anteriormente, as macrófitas contribuem para evitar o assoreamento dê margens e encostas de rios, lagos e córregos.
Alguns grupos de plantas aquática de margem, também ajudam a diminuir o impacto das chuvas no solo das encostas, ajudando a evitar a erosão.
Imagem: Macrófitas na borda de lago, em Santa Cruz do Sul – RS, auxiliando contra a erosão. Fonte: Airton Noé Araujo da Silveira.
Purificação da água
As plantas aquáticas também possuem características que proporcionam a filtração da água, colaborando com a limpeza dos corpos hídricos. Certas espécies conseguem purificar mais, e outras menos, dependendo de cada tipo e tamanho.
Há diversos tipos de plantas aquáticas com potencial muito interessante para serem utilizadas em biofiltros artificiais para filtrar e purificar águas residuais.
Por serem plantas com potencial de ajudar a purificar a água, este tipo de vegetação aquática pode ser introduzido artificialmente em locais com águas contaminadas, com elementos orgânicos ou inorgânicos. Desta forma as plantas podem auxiliar no tratamento e na remediação de locais, dependendo dos tipos e das concentrações de poluentes presentes.
Há diversos tipos de macrófitas em relação as suas estruturas e posicionamento nos ambientes em que se encontram. Como por exemplo, há plantas que ficam totalmente submersas na água, outras que ficam flutuando, e outras ficam parcialmente dentro da água.
Imagem: Biótipos de macrófitas. Fonte: Lima (2008)
Podemos citar alguns tipos de macrófitas, como por exemplo:
Aguapé (Eichhornia crasslpes )
Taboa, ( Typha domingensis )
Orelha-de-onça ,(Salvinia auriculata.)
Lentilha d’água, (Lemna minuta.)
Alface d’água, ( Pistia stratiotes)
Vitória-régia, (Victoria-régia)
Carqueja-Do-Pântano Hydrolea spinosa
Imagem: Exemplares de macrófitas. Fonte: Infobios
Todos os tipos de macrófitas tem certo potencial de despoluir a água, embora algumas espécies tenham mais capacidade de absorção de poluentes, e outras tenham um pouco menos. Essa relação anteriormente citada, depende de cada espécie e dos tipos de poluentes envolvidos na água.
Vários tipos de contaminantes que são jogados na água, como por exemplo os de origem urbana, que contêm grandes quantidades de detergentes, e outros contaminantes que são ricos em hidróxido de sódio, ou potássio, e também fósforo, afetam diretamente a qualidade da água.
E no contexto de purificação da água, entra em cena então as macrófitas, que possuem capacidade de absorção destes tipos de elementos químicos que poluem a água.
Dependendo de cada caso, as macrófitas podem absorver os contaminantes, removendo e isolando estes da água. Ou em outros casos, podem degradar os contaminantes, também diminuindo a sua presença na água.
Os Wetlands são exemplos de estruturas artificiais construídos para filtrar e purificar águas residuais, que utilizam as propriedades das macrófitas para auxiliar neste processo.
Imagem: Exemplo de composição básica de um modelo de Wetland. Fonte: Airton Noé Araujo da Silveira.
Há diversos tipos de Wetlands, e também há uma variedade de macrófitas que podem ser combinadas com essas estruturas. Isso depende muito do tipo da estrutura que se deseja construir, e do tipo de efluente que se deseja tratar.
Observar a região onde será instalado o Wetland, também é interessante considerar na hora de escolher e avaliar as melhores espécies, para ver se há boa disponibilidade matrizes de macrófitas, em região próxima, para contemplar a composição do sistema.
Desiquilíbrio de ecossistemas
Em determinados casos e quantidades, os grupos de macrófitas podem causar o desequilíbrio em determinados ambientes, proporcionando uma densa camada superficial em corpos hídricos. Desta forma, dificulta a entrada de luminosidade solar nas camadas de água, e também diminui a oxigenação desta.
Devido a grandes quantidades de material orgânico, misturados em corpos hídricos, em conjunto com as macrófitas, pode ocorrer a eutrofização destas águas.
Imagem: Açude com excesso de macrófitas, em Alegrete – RS. Fonte: Airton Noé Araujo da Silveira.
Isso pode ocorrer como por exemplo, em locais devido a efluentes de origem de decantação de frigoríficos, ou onde há criação de animais, com grandes quantidades de materiais orgânicos despejados nos efluentes gerados.
O crescimento desordenado das macrófitas, ocorre em função da grande oferta de nutrientes. Este fenômeno também pode ocorrer em função de despejos de esgotos urbanos e efluentes industriais não tratados, em corpos hídricos.
A eutrofização é um fenômeno causado pelo excesso de material orgânico na água, onde ocorre uma proliferação desordenada de vegetação, que acaba prejudicando a oxigenação da água. Causando assim, a morte de muitos peixes e outros organismos que estejam presentes nestas águas.
Na eutrofização, ocorre também o apodrecimento do excesso de plantas e material orgânico presente na água, promovendo uma acentuada geração de metano.
A carpa capim, a tilápia, e o pacu, são espécies de peixes que colaboram consumindo as macrófitas, e fazendo o controle biológico dos volumes destas plantas.
Também é possível fazer o controle desta vegetação por meio químico, com herbicidas. Porém o uso de químicos pode promover mutações genéticas em tilápias e mudanças de comportamento em outros peixes, como o mato-grosso (Hyphessobrycon eques) e o paulistinha (Danio rerio).
Imagem: Carpa em borda de açude onde há plantas aquáticas para se alimentar. Novo Cabrais – RS. Fonte: Airton Noé Araujo da Silveira.
Com estes exemplos de problemas que ocorrem em peixes, decorrentes da exposição a herbicidas na água, não é difícil constatar que estas águas que contém estes elementos químicos, também podem prejudicar a saúde dos seres humanos.
E também pode ocorrer uma possível contaminação indireta de seres humanos com estes herbicidas, em função do possível consumo da carne destes peixes.
Situações indesejadas
Em certas situações, as plantas aquáticas também podem representar problemas e prejuízos, em decorrência de acúmulos desta vegetação, que se fixam em estruturas como tubulações de esgoto, de captação de água, partes de embarcações, entre outros.
As macrófitas acumuladas também podem representar obstruções em canais de escoamento ou drenagem de locais de irrigação, criando assim uma demanda de remoção física destas plantas.
A presença excessiva de macrófitas, em corpos hídricos onde há a captação de água, também pode representar situações de aumento de custos para tratamento de água.
Isso ocorre em função de grandes acúmulos de plantas, que podem apodrecer e trazer aspectos ruins para água, como aumento da turbidez, mau cheiro e gosto acentuado.
Fontes auxiliares:
Esteves, F.A. Fundamentos de Limnologia. 2ed. Interciência, Rio de Janeiro. p.575. 1998.
Pott, V. J.; Pott, A. Potencial de uso das plantas aquáticas na despoluição da água. Campo Grande: Embrapa Gado de Corte. 25p. 2002.
http://www.infobibos.com.br/Artigos/2008_3/macrofitas/index.htm