Por: Airton Noé A. da Silveira. (Eng. ambiental)
02/02/24
Quando pensamos em preservação ambiental, é importante considerar também que muitos aspectos estão ligados, direta ou indiretamente, em contextos que promovem ou interagem de alguma forma com mecanismos necessários para alcançar os resultados desejados para o planeta.
Na busca da sustentabilidade, é preciso considerar como a vulnerabilidade social está vinculada com a preservação do meio ambiente e como este tema desempenha um papel muito significativo ao influenciar e impedir determinados esforços que buscam cuidar do meio ambiente.
Este conceito de vulnerabilidade social tem uma referência em relação ao grau em que determinados indivíduos e comunidades podem suportar os impactos das mudanças ambientais, incluindo desastres naturais, esgotamento de recursos naturais e financeiros, e também alterações climáticas.
Diversos fatores podem contribuir para a vulnerabilidade social e abordá-los é extremamente importante para percebermos o que é preciso para obter uma preservação ambiental mais eficaz.
Abordar a vulnerabilidade social, que é um tema delicado, exige certa sensibilidade de reconhecer as questões humanas envolvidas como prioridade social, porém sem esquecer da proteção do meio ambiente, que consequentemente refletirá mais adiante em qualidade de vida para a comunidade envolvida.
Para facilitar a compreensão, a seguir exploramos alguns tópicos de como a vulnerabilidade social interage e afeta a preservação ambiental:
Distribuição irregular e desigual de riscos ambientais:
Ocorre em muitas comunidades onde há indivíduos em situação de vulnerabilidade social, situações de uma distribuição desigual dos riscos ambientais.
Isso acontece em função destas comunidades estarem desproporcionalmente expostas a pontos de poluição, locais com a presença de resíduos perigosos ou já impactados com alterações climáticas.
Fatores como a pobreza, disseminação de doenças, discriminação ou preconceitos, acabam também agravando problemas ambientais, pois dificultam que determinados indivíduos ou entidades possam interagir de forma mais efetiva em locais onde o ambiente também necessita de maior atenção.
Limitação de acesso a determinados recursos:
Em grupos socialmente vulneráveis, a dificuldade de acesso a determinados recursos essenciais como, por exemplo, a água potável, alimentos de qualidade, cuidados básicos de saúde e higiene, e educação, é muito difícil julgar as formas que os indivíduos interagem com o meio ambiente para extrair o que é necessário para se manterem.
Esta limitação agrava a situação do meio ambiente em função de que os indivíduos em situação de vulnerabilidade social não medem as consequências de seus atos que refletem sobre o ambiente, que em muitos casos nem sabem o que suas ações podem gerar de resultados negativos.
É preciso compreender que os esforços de preservação devem considerar e prever formas de garantir o acesso equilibrado aos recursos, criando oportunidades e soluções sustentáveis para beneficiar as comunidades de forma mais justa e consciente.
Diferenças econômicas:
A vulnerabilidade econômica está ligada de forma muito acentuada à vulnerabilidade social, pois determina o grau de muitos tipos de limitações e dificuldades.
Os indivíduos que se encontram em comunidades que estão economicamente desequilibradas e desfavorecidas, tem uma grande tendência de necessitarem de recursos financeiros além do que possuem para se adaptarem ou recuperarem de alguma forma dos desafios ambientais em que se envolvem localmente.
Por isso, as iniciativas de preservação ambiental devem prever estratégias para reduzir a pobreza de forma que proporcione condições de resiliência para as populações mais vulneráveis.
Limitação de participações em tomadas de decisões:
Em grupos socialmente vulneráveis, é comum encontrar menores quantidades de participantes dispostos e aptos para participação em processos de tomada de decisões ambientais, para colaborar de forma mais efetiva em determinadas situações.
A falta de representantes e de participantes dispostos a questionar políticas públicas, pode dificultar o debate adequado para enfrentar as preocupações destas comunidades mais vulneráveis. Deixando assim muitas ideias e propostas perdidas ou sem continuidade, na esperança de que apenas um governo mais distante tenha um dia a visão para resolver a situação.
Aumentar o envolvimento de indivíduos em processos de tomada de decisão, é vital para garantir uma representação mais diversificada em processos de tomada de decisão.
Só assim podemos aumentar as chances de desenvolver determinadas estratégias de preservação ambiental que sejam mais inclusivas e eficazes.
Desrespeito aos povos tradicionais:
A vulnerabilidade social também atinge as comunidades indígenas, e isso acaba prejudicando o aproveitamento dos conhecimentos tradicionais que são muito valiosos sobre práticas mais sustentáveis e gestão ambiental dos locais que abrangem estes territórios.
Se desconsiderarmos esse conhecimento tradicional, podemos prejudicar a aplicação de determinados esforços de preservação do meio ambiente.
Projetos e iniciativas que consideram e integram o conhecimento tradicional podem ser muito importantes nas estratégias de conservação de determinados habitats, pois podem promover uma preservação ambiental mais assertiva, considerando o comportamento e particularidades locais.
Alterações climáticas e a geração de impactos desproporcionais:
Os efeitos das alterações climáticas tendem a afetar mais gravemente as comunidades mais vulneráveis, e consequentemente isso diminui as condições destas comunidades de se dedicarem a determinadas causas ambientais básicas e importantíssimas.
O aumento da frequência e da intensidade dos fenômenos meteorológicos extremos promove a perda de recursos e meios de subsistência.
Em função de determinados eventos climáticos que tendem a afetar mais algumas comunidades carentes, as estratégias de mitigação das alterações climáticas devem dar prioridade às necessidades das populações mais vulneráveis.
Isso é necessário para garantir que determinadas comunidades não sejam desproporcionalmente afetadas pelos impactos das alterações climáticas.
Falta de infraestrutura e suporte insuficiente:
Comunidades socialmente vulneráveis tendem a carecer de infraestruturas básicas e de serviços essenciais, que também são importantíssimos para proporcionar condições de preservação do meio ambiente. Serviços adequados de esgoto e saneamento básico são alguns dos principais exemplos que podemos considerar levando em conta situações deste gênero.
O suporte para a destinação de resíduos adequada, e o acesso à educação, também são outros fatores que podemos citar que são indispensáveis em comunidades carentes, para dar suporte a outros diversos contextos que podem ser base para a preservação do meio ambiente.
O tratamento adequado de água e a disposição para a população promovem a saúde das pessoas e, ao mesmo tempo, evitam a degradação ambiental que poderia ocorrer em função de processos inadequados de extração.
As infraestruturas sustentáveis são a chave para satisfazer as necessidades de comunidades mais vulneráveis, e isso também resulta na redução da pegada ambiental.
Disponibilidade de recursos de saúde pública:
Populações socialmente mais vulneráveis, também tendem a enfrentar taxas mais elevadas de problemas de saúde em função de certos fatores ambientais, como a exposição a poluentes e contaminantes.
Quando a população possui problemas de saúde, os desafios ambientais se tornam menos relevantes para os afetados, em função que as preocupações que são mais urgentes para estes indivíduos, envolvem questões de sobrevivência humana.
Iniciativas que busquem integrar preocupações ambientais e questões de saúde pública, são essenciais para promover aspectos de sustentabilidade para melhorar as condições das populações mais vulneráveis.
Aproveitamento do solo e questões de urbanização:
A rapidez da urbanização e as diferentes práticas de aproveitamento do solo, tendem a conduzir frequentemente à invasão de diversas áreas que podem ser ambientalmente sensíveis.
Isto pode resultar em muitos casos, na destruição de diversos habitats, na perda de biodiversidade local e no aumento da degradação do ambiente ocupado.
Por isso que o desenvolvimento sustentável deve ser uma das principais diretrizes das políticas de planejamento urbano para evitar os efeitos da degradação ambiental e da exploração inadequada dos ambientes.
Educação ambiental e processos de conscientização:
Quando comunidades socialmente vulneráveis não têm suporte e acesso à educação ambiental, resulta na limitação da compreensão de diversas questões de conservação e das práticas mais sustentáveis.
Em função deste fator, os esforços de preservação ambiental precisam incluir iniciativas de educação ambiental que promovam a capacitação das comunidades com conhecimentos sobre a conservação ambiental, vida sustentável e de questões que estão ligadas aos impactos da degradação ambiental.
Migrantes e refugiados em situação de vulnerabilidade social:
Indivíduos que precisam se refugiar e saírem de seus países de origem, tendem a enfrentar em muitos casos questões de vulnerabilidade social em função de diferenças de costumes e estruturas sociais locais.
Esta situação de vulnerabilidade pode promover um aumento da pressão sobre os recursos naturais locais de determinadas comunidades hospedeiras, criando assim desafios adicionais para aspectos de preservação ambiental.
Para evitar a sobrecarga populacional em determinadas comunidades, é preciso políticas públicas que considerem estas questões e atendam às necessidades específicas das populações deslocadas, sem esquecer as questões ambientais envolvidas.
Práticas sustentáveis de acolhimento a indivíduos de outras populações, precisam ser consideradas para as comunidades migrantes, pois é crucial para mitigar determinadas dificuldades de suporte e recursos naturais necessários.
Desigualdades entre países e a justiça ambiental:
A vulnerabilidade social é uma questão global e envolve muitas vezes determinadas comunidades que tiveram origem em situações de desigualdade regional e com falta de distribuição adequada de renda, em nações industrializadas e também em nações menos desenvolvidas.
Por isso é muito importante superar as diferenças e interesses governamentais, e priorizar a cooperação internacional e as políticas que possam promover a educação ambiental e a colaboração nos esforços globais de preservação do meio ambiente.
Diversos dos desafios ambientais que podem surgir em determinadas comunidades, podem limitar e reduzir o capital econômico local, levando a uma maior vulnerabilidade financeira.
Para isso não acontecer, é necessário buscar o equilíbrio entre a necessidade de meios de subsistência e a quantidade de recursos disponíveis. Isso não é fácil se considerarmos o crescimento populacional de determinadas regiões, que são mais altas que o ambiente local pode suportar sem traços de degradação e perda de ecossistemas.
Considerando estes tópicos abordados anteriormente, podemos ver que as estratégias de preservação ambiental devem sempre considerar as condições sociais das comunidades, para promover a mudança social necessária que promova realmente a resiliência dos povos e a aplicação da gestão ambiental adequada a estes locais.
Abordar questões como a vulnerabilidade social envolvendo o contexto da preservação ambiental vinculada, requer uma percepção mais abrangente dos fatores envolvidos que geram ações e reações, e todas as suas consequências.
Questões ambientais imediatas e os fatores socioeconômicos de uma comunidade, estão ligados e podem contribuir para a aumentar ou diminuir a vulnerabilidade social e as condições naturais do ambiente presente.
Precisamos ver a vulnerabilidade social como um aspecto relevante e essencial a ser tratado para obtermos condições adequadas de preservação ambiental e que possam ser partilhadas por todas as gerações atuais e futuras.
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